QUEM FOI MARIA BONITA, A MULHER DO CANGAÇO?
A expressão “sangue de Maria Bonita” viralizou na madrugada de segunda-feira (23) após Fred Nicácio, participante do Big Brother Brasil, confortar a jogadora Marília Miranda, em uma situação de conflito no reality.
Muitos internautas fizeram memes e piadas a partir da cena, enquanto outros criticaram a situação. Mas, afinal, quem é Maria Bonita? E por que o seu nome é utilizado como sinônimo de poder feminino?
A CNN conversou com Adriana Negreiros, autora da biografia de 2018 – Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço – para entender de onde veio a expressão e a história por trás dela.
Segundo a jornalista, Maria Gomes de Oliveira e outras mulheres foram oprimidas no cangaço e, por isso, é errôneo romantizar o sofrimento como “valentia” e símbolo de empoderamento.
“A cultura se apropriou muito da imagem dessas mulheres, escondendo a extrema violência que, de fato, sofreram”, apontou a autora.
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Após se envolver com Lampião e entrar para o cangaço, Maria Bonita viveu apenas até os 28 anos e foi vítima de um massacre ao lado dele. No entanto, seus feitos perduram até os dias de hoje.
Tempos do cangaço e Lampião
Cangaço foi um fenômeno do final do século 19 e início do século 20, em que homens andavam em grupos pelo sertão cometendo crimes (roubos, saques e estupros) em nome da “justiça”, muitas vezes contratados por grandes fazendeiros e empresários.
Maria Bonita foi a primeira mulher a entrar no cangaço, abrindo a “porta” para que outras pudessem fazer o mesmo. Isso aconteceu porque ela e Lampião – a figura mais proeminente do banditismo rural na época – se apaixonaram e ele exigiu que ela entrasse para o grupo e o acompanhasse.
Opressão de mulheres
Segundo a autora, as mulheres que eram inseridas no cangaço, acabavam sendo submetidas aos homens e aos seus códigos de conduta. Enquanto eles eram contemplados com “liberdades” dentro das regras, o sexo feminino tinha apenas obrigações. Em alguns cenários, o descumprimento delas poderia levar até mesmo à morte.
Apesar de todas as atrocidades, acredita-se que com a chegada das mulheres houve mudanças de comportamento, divisão de tarefas e diminuição no número de estupros.
Romantização pela arte
A autora da biografia de Maria Bonita contou à CNN que o cangaço foi romantizado pela literatura de cordel, pelo cinema e pela televisão – como foi o caso da minissérie “Lampião e Maria Bonita”, da Rede Globo, em 1982.
“Foram tratados como camponeses revolucionários, preocupados com desigualdade econômica e social, o que é uma visão ingênua e descolada da realidade (…) Eram mulheres fortes, claro. Mas enfrentaram intempéries, a polícia e a violência dos companheiros”, completou Negreiros.
Maria Bonita morreu aos 28 anos, em 1938, baleada e decapitada junto com outros membros do bando após um ataque. Suas cabeças foram expostas ao público em exposições itinerantes por várias cidades como prova da morte dos membros do cangaço. Os restos mortais foram enterrados apenas em 1969.
Uma das teorias mais plausíveis para o apelido de “Maria Bonita” vem de relatos que, ao fazer a identificação dos mortos, um policial exaltou a beleza de Maria Gomes de Oliveira, e assim cravou seu nome na história.